quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Estação Final (Minha Crônica)

28/07/08
"Por favor, me leve um momento lá fora." - Disse o homem com a voz um pouco rouca por causa de sua garganta seca e dos seus lábios desumidecidos. Assim fez a enfermeira, pegando nos braços franzinos e que de tão molengos parecia que quebrariam. Levou-o para fora do quarto e o colocou sentado em um banco de visitas no meio do corredor. "Não, minha senhora, eu quero ir lá fora!"; A enfermeira arregalou seus olhos que já eram esbugalhados e cercados por olheras enormes por virar noites e noites cuidando de pessoas mórbidas e sem esperança naquelas noites frias de inverno. Mesmo contra sua vontade e por pura insistência daquele senhor, a enfermeira o levou para fora do hospital. Sr. Lenon retirou suas sandalhas e colocou o peito dos seus pés sobre a neve gélida. A enfermeira em pleno desespero gritava "Meu Senhor! Você não pode fazer isso!". Foi ignorada completamente por Lenon, e o senhor se soltou da enfermeira e com uma voz enfurecida gritou com ela "Deixe-me em paz!".
Correu como uma criança naquela neve e caiu num pequeno monte de neve afim de se afundar ali. Brincou, riu, sorriu, foi feliz só naquele dia, seu último dia. (...)

Seu quarto era mórbido, tinha uma tristeza no ambiente, mas a feição da mulher que estava ao seu lado deixava o ambiente mais armoniozo. Deitado naquela cama, Sr Lenon não esboçava nem um sorriso, nem um ar de preocupação, nem um medo. Ficava imóvel, mas mostrando sinal de vida ao piscar seus olhos e o rufar de seus pulmões também davam uma sinalização de final de vida.
Havia uma criança ao lado da cama apoiando seu rosto sobre o braço do Sr. Lenon, e a mulher que estava ao lado da cama envolvia a menina com uma de suas mãos grandes e magras. Ninguém falava nada, ninguém sequer chorava naquele momento.
Lenon permanecia imóvel e a senhora ao seu lado também o observava imóvel, apenas a criança permanecia agitada e infeliz naquele lugar "Papai, por que estás aqui?" - quebrado o silêncio, Lenon finalmente desvincilhou seu olhar da janela e voltou seu rosto magro para a pequenina Jany. "A pergunta não é essa minha criança, a pergunta é para onde eu vou."
"Vás para onde papai?" - Reformulou a frase. "Vou para um lugar onde não encmodarei mais ninguém e me sentirei bem melhor." A mulher que ao lado da cama estava, rangia seus dentes em sorriso inexplicável onde escondia a tristeza e mostrava a agonia. A criança sorriu mesmo não entendo nada, continuou com seu queixo encostado no braço de seu pai.
Lenon suspirou um ar profundo e olho nos olhos da moça que estava ali, deu um belo sorriso que mostrava seus dentes amarelados pela nicotina de seus cigarros e nesse sorriso demonstrava uma paz e um romantismo escondido num velho homem. Olhou profundamente naqueles olhos que demonstravam tanta tristeza, e segurou na mão da jovem e com poucas ações conseguiu dizer "eu te amo" aos ventos que passavam no ambiente que chegaram em silêncio aos ouvidos dela. Novamente olhou para a janela e fitou seu olhar na rua e na neve que caia la fora e aos poucos começava a cochilar. "Esta um belo dia lá fora..." E então fechou os olhos e dormiu, e nunca mais acordou.

Nayara de Souza.

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